
A alegria do Natal é a resposta de Deus à tristeza do homem.
Cumprindo as promessa feitas à Abraão e à sua descendência (cf. Lc 1,
55), Ele visita hoje o povo que, segundo o Seu beneplácito, escolheu para Si;
fá-lo, porém, para além de tudo quanto o coração humano possa esperar: cheio de
bondade e ternura, o Pai de misericórdias (cf. 2Cor 1, 3) envia-nos
numa carne (cf. 1Jo 4, 2) em tudo semelhante à nossa, menos no pecado
(cf. Hb 4, 15), o Seu "Filho bem-amado" (Mc 1, 11).
Deus hoje Se encarna, faz-Se presente aos que por tanto tempo fugiram à Sua
presença. Escondido na humildade de um recém-nascido, Jesus Cristo assume hoje
todas as perfeições e delicadezas por que quis ser prefigurado e anunciado aos
nossos pais na fé: a inocência de um Abel, a pureza de um José, a mansidão de
um Moisés—tudo isto se encarna hoje, sob a doçura frágil de um menino, n'Aquele
que Se faz carne por amor ao homem. É o mesmo Senhor que, permanecendo o que
era e assumindo o que não era, faz tremer a humanidade diante do mistério de
Sua presença e da presença deste tão grande Mistério.
A alegria do Natal é, pois, a resposta de um Amor que, vendo
a solidão e o sofrimento humanos, quis sofrer conosco, quis vir a este desterro
para tirar-nos a nós, degredados da glória celeste, da nossa solidão terrena.
Assumindo a nossa natureza, Ele nos chama a participar da Sua; padecendo as
nossas dores, Ele nos convida a gozar as Suas alegrias. O Filho de Homem,
contudo, não tem hoje onde reclinar a cabeça (cf. Mt 8, 20): Ele nos
deu tudo o que temos e Se priva agora de tudo o que, por direito, poderia ter.
Ele, que é muito mais do que sequer podemos conceber, faz-Se servo dos que
deseja chamar amigos. Deus é, de hoje em diante, Deus conosco, o Emanuel há
tanto esperado! Porque só Ele poderia vir, só Ele poderia transpor o abismo que
existe entre a nossa indigência e solidão e a plenitude de amor e comunhão de
que goza a Trindade Santa pelos séculos sem fim.
Que este Natal seja de profunda e sentida gratidão pela
forma maravilhosa por que o Pai quis salvar-nos, reconciliando-nos Consigo, e
dar-nos a conhecer o Seu amor por nós, vivido até o extremo da Cruz por Aquele
que não nos desprezou, não teve nojo de nós—antes, preferiu ser Ele mesmo
desprezado e rejeitado pelos que eram Seus (cf. Jo 1, 11), para que
todo o que n'Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna (cf. Jo3, 18).
Demos graças ao Senhor pela única e verdadeira boa notícia que nos foi
anunciada: hoje nasceu para nós um Salvador, que é o Cristo Senhor! Não estamos
mais a sós! Glória e honra a Ele por todos os séculos dos séculos. Amém.